O Dia do Cineclube comemora-se pela 2ª vez, no dia 14 de Abril de 2020. Este ano a data sucede a um acontecimento especial: o 75º aniversário do Clube Português de Cinematografia - Cineclube do Porto (CPC-CCP). Por esse motivo a FPCC convidou uma personalidade ligada àquela instituição, o arquitecto Alexandre Alves Costa para redigir o texto comemorativo (ver em baixo). Alexandre Alves Costa integrou os órgãos sociais do CPC-CCP e é filho de Henrique Alves Costa, cinéfilo que integrou o CPC-CCP dois anos depois da sua fundação e que marcou a história do cinema português, e afilhado do cineasta Manoel de Oliveira, laço que testemunha a amizade de seu pai com o realizador.
Como se sabe o calendário das festividades inicialmente proposto não poderá ser realizado, ficando a FPCC a aguardar pelas condições adequadas.
Brindamos com todos os cineclubistas por mais um ano de vida do mais antigo cineclube português em actividade e VIVAM OS CINECLUBES.
De modo a tornar este dia ainda mais especial a FPCC enviou a proposta à FICC para que este dia se comemore além fronteiras. A proposta será discutida em breve e deseja-se que seja mais um motivo para que o cineclubismo seja celebrado em todo o mundo.
"Dia Nacional do Cineclube
14 de Abril, Dia Nacional do Cineclube, um dia antes, a 13, o Cineclube do Porto comemora os seus 75 anos. Devo, seguramente, à memória do meu Pai, Henrique Alves Costa, o honroso convite para escrever estas palavras. Mas não é dele que se trata, embora seja impossível não referir aquele que foi, em 1987, considerado, pela Direção da Federação Portuguesa de Cineclubes “o homem de todos os cineclubes”.
É difícil fugir ao tom autobiográfico a que a minha proximidade naturalmente me levaria. Nesse tom, que tentarei evitar, apenas direi que “Cineclube” foi palavra chave da minha casa.
Não só o Cineclube do Porto, com os seus 2.500 sócios, como o Cinema em geral, constituíram algumas das mais importantes razões de ser da sua vida inteira.
O papel dos cineclubes, particularmente em Portugal, foi de enorme relevância política e cultural durante o Estado Novo. É de salientar que a cultura durante o salazarismo era, por definição, uma atividade de resistência antifascista pela razão simples de, não só, mostrar o mundo tal como ele é, sem a máscara inventada pelo regime, mas mais ainda, como ele deveria ser na sua correspondência com as justas aspirações cidadãs de uma vida em liberdade.
O cinema, com a sua inexcedível capacidade de comunicação foi, no plano da cultura possível, o maior inimigo da ditadura. O cineclubismo foi subversivo, pela sua própria natureza.
Mas a esta situação circunstancial acresce a sua atualidade, neste mundo globalizado quando, o cinema, tomado como indústria do lazer e não pelos seus valores artísticos, tem os seus circuitos de produção e distribuição, dominados por valores estruturalmente comerciais e enfeudados às leis do mercado.
Por estas razões, associar cidadãos que lutam pela defesa de um cinema independente e de qualidade, fora daqueles circuitos, proporcionando o seu usufruto colectivo, tem, hoje, um valor de resistência, política e cultural, semelhante ao do passado fascista.
O movimento cineclubista tem pois, agora, todas as razões para se manter e se fortalecer, não só em Portugal, mas também no mundo.
Estas palavras podem, neste momento, soar a tragédia e constituírem sequente apelo urgente, se delas fortalecermos a consciência de vivermos, já muitos, numa cidade fechada, dominada por personagens “repugnantes”.
A comemoração do Dia Nacional do Cineclube, deve, antes de mais, ser uma chamada à mobilização cidadã, pela defesa da cultura e, evidentemente, do Cinema, como manifestação maior do exercício da Liberdade.
Alexandre Alves Costa"
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